IBAMA confirma início de queimadas ilegais em Apuí e alerta para riscos à saúde no Amazonas

As queimadas ilegais voltaram a preocupar o sul do Amazonas. Imagens registradas por moradores de Apuí, na última sexta-feira (25), mostram colunas de fumaça tomando o céu do município, marcando o início de mais uma temporada crítica de desmatamento e incêndios na região. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) confirmou os registros nesta segunda-feira (28) e alertou para os impactos diretos na saúde da população.
O período de estiagem, conhecido como “verão amazônico”, é historicamente utilizado por grileiros e produtores rurais para avançar sobre áreas de floresta. Com o fim das chuvas, o fogo é usado como instrumento de “limpeza” de terrenos, abrindo espaço para a criação de gado e outras atividades econômicas.
Em nota, o IBAMA classificou as queimadas como ações criminosas recorrentes e reforçou os riscos à qualidade do ar em todo o estado. O órgão relembrou os episódios dos últimos dois anos, quando a fumaça encobriu cidades inteiras, incluindo a capital, Manaus. “Essa prática impacta diretamente a saúde da população e agrava a crise ambiental”, destacou o texto.
O superintendente do IBAMA no Amazonas, Joel Araújo, também se manifestou nas redes sociais. “Apesar das fiscalizações, multas e embargos, continuam destruindo a floresta, a nossa saúde e o nosso futuro. Agora é a hora dos políticos de ocasião se manifestarem”, disse.
O instituto pediu que outras instituições se somem ao combate aos crimes ambientais: “Não podemos agir sozinhos. É urgente que o Ministério Público, o Judiciário, os governos estadual e federal, e o Congresso Nacional tomem uma posição firme contra esse cenário que se repete ano após ano”, afirmou o órgão.
Pressão e articulações
As queimadas ocorrem semanas após operações do IBAMA na região, que resultaram em autuações e embargos a áreas desmatadas ilegalmente. Na ocasião, produtores rurais e representantes do governo do Amazonas reagiram, alegando que as ações prejudicavam o sustento de trabalhadores locais.
Desde então, o governo estadual tem articulado medidas para equilibrar a proteção ambiental com a regularização fundiária e o incentivo à produção sustentável. Na semana passada, o governador Wilson Lima (União Brasil) reuniu-se em Manaus com produtores de nove municípios do sul do estado — entre eles Apuí, Humaitá e Lábrea — para debater alternativas econômicas e legais.
Durante o encontro, produtores solicitaram apoio para viabilizar o uso de até 50% das áreas florestais, conforme previsto em lei para municípios com grandes extensões ocupadas por terras indígenas e unidades de conservação. A proposta poderá avançar com a conclusão do Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) da região, em elaboração pelo governo estadual.
Outra frente em negociação é a assinatura de um acordo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para a regularização dos assentamentos federais, o que permitiria dar segurança jurídica aos produtores e reduzir conflitos fundiários na região.