Terras raras: entenda o que é e o interesse dos EUA nos elementos
Reservas brasileiras de terras raras despertam interesse dos EUA em meio a impasse comercial com Trump e podem entrar na disputa por minerais estratégicos.

As chamadas terras raras são um grupo de 17 elementos químicos encontrados em abundância em vários países. A maior parte desses minerais está concentrada em dois pontos: na China e no Brasil. Eles são imprescindíveis para a indústria. Agora, a reserva brasileira é alvo do imbróglio com Trump.
O Brasil tem a segunda maior reserva de terras raras do mundo, segundo o Ministério de Minas e Energia (MME). Isso representa 25% do território existente.
Em meio ao impasse das tarifas impostas por Trump, o governo foi informado de que os Estados Unidos querem acesso aos minerais estratégicos.
O encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, recebeu na quarta-feira (23) os representantes do Instituto Brasileiro de Mineração. Segundo o instituto, os Estados Unidos estão interessados em realizar acordos com o Brasil para a aquisição de minerais considerados estratégicos.
A posição de especialistas é de que isso pode mudar o rumo da negociação sobre as taxas. O governo Lula, no entanto fez críticas. Em um evento, Lula criticou o interesse declarado dos Estados Unidos nos minerais estratégicos brasileiros, como o lítio e o nióbio e disse que “aqui ninguém põe a mão”.
O que elas são?
As terras raras formam um grupo de 17 elementos químicos essenciais para o funcionamento de diversos produtos modernos — de smartphones e televisores a câmeras digitais e LEDs. Apesar de usados em pequenas quantidades, são insubstituíveis.
O uso mais importante dessas substâncias está na fabricação de ímãs permanentes. Potentes e duráveis, esses ímãs mantêm suas propriedades magnéticas por décadas. Com eles, é possível produzir peças menores e mais leves, algo essencial por exemplo, para tecnologias, turbinas eólicas e veículos elétricos.
Esses elementos também são fundamentais para a indústria de defesa. Estão presentes em aviões de caça, submarinos e equipamentos com telêmetro a laser. Justamente por essa relevância estratégica, o valor comercial é elevado.
Por que são chamadas de raras?
Apesar do nome, as terras raras não são exatamente raras. Estão espalhadas por todo o mundo, mas em concentrações muito pequenas. O desafio é encontrar depósitos onde a extração seja economicamente viável.
O poder da China
Como a maior concentração está na China, o que faz do país um monopólio e isso tem preocupado Trump.
Não só a reserva está no país, como o refino. Depois de extraídos, os elementos passam por processos complexos de separação e refino até se tornarem compostos utilizáveis. Essa etapa também é dominada pela China, que lidera a produção mundial de ímãs.
O controle é ainda maior em relação a certos elementos. Os mais leves — com exceção de neodímio e praseodímio — são mais abundantes e fáceis de extrair. Mesmo assim, a União Europeia importa de 80% a 100% desse grupo da China. Para os elementos mais pesados, a dependência chega a 100%.
O domínio chinês acendeu alertas no Ocidente. Nos últimos anos, EUA e UE começaram a formar reservas estratégicas de terras raras e outros materiais críticos.
Onde elas estão no Brasil?
A presença dos minerais estratégicos em solo brasileiro tem despertado cada vez mais atenção de governos e empresas ao redor do mundo.
O país possui vastas reservas de recursos considerados cruciais para o futuro da economia global — entre eles, o nióbio, o lítio, o grafite, o cobre, o cobalto, o urânio e os chamados elementos terras raras. Esses minerais estão no centro das transformações tecnológicas e energéticas do século 21.
A Amazônia brasileira possui importantes reservas de terras raras, especialmente na região de Pitinga, no Amazonas. Essas reservas, que incluem minerais como o xenotímio, são cruciais para a indústria de alta tecnologia, incluindo baterias para carros elétricos e outras aplicações. A região de Pitinga, em particular, é notável por sua combinação única de minerais, incluindo terras raras, urânio e cassiterita. Além de Pitinga, outras áreas na Amazônia, como a Terra Indígena Balaio, também são alvo de estudos para identificação e exploração de terras raras.
O país ainda tem outro trunfo: além das grandes reservas naturais, o país tem vantagens comparativas importantes, como matriz energética limpa, território estável, tradição mineradora e conhecimento técnico.
Estudos apontaram indícios de reserva estratégica de minerais na Bacia do Parnaíba, que abrange áreas dos estados do Maranhão, Piauí e Ceará.
Além disso, O Brasil reivindica uma ilha submersa do tamanho da Espanha, localizada a cerca de 1.200 km da costa do Rio Grande do Sul. Trata-se da Elevação do Rio Grande (ERG), uma formação geológica que o país quer reconhecer como parte do seu território junto à Organização das Nações Unidas (ONU).
Análises geológicas indicam que essa formação submersa é uma continuação natural do território continental brasileiro. Pesquisas da USP mostram que o solo da região é geologicamente semelhante ao do interior de São Paulo. Além disso, a área é rica em minerais estratégicos, como as chamadas “terras raras”, essenciais para a transição energética e a indústria de alta tecnologia.